Quando abri o blog, não tive a pretensão inicial de falar sobre séries de TV por aqui. Mesmo tendo sido meu objeto de pesquisa de TCC, queria focar no cinema mesmo, que é a minha especialidade. Certamente quebrarei essa regra de vez em quando, como faço agora após assistir ao piloto da nova série do canal CW, The Carrie Diaries. Como órfão de Sex and the City, que foi meu objeto de estudo na graduação, existe sentimentalismo a tudo que ainda pode ser feito em relação a ela. Entretanto, quando o projeto foi lançado, a possibilidade de não fazer jus aos referenciais já conhecidos causava temor.
A série adapta o livro homônimo de Candace Bushnell, criadora de Sex and the City, e mostra Carrie Bradshaw (aqui vivida por uma encantadora AnnaSophia Robb) ainda adolescente, vivendo o glamour brega dos anos 80. Nesta época, ela ainda não tinha conhecido suas amigas Samantha, Miranda e Charlotte. Se apegar aos detalhes do livro ou mesmo do programa de sucesso da HBO é um erro. Primeiro porque o envolvimento dos produtores de Gossip Girl certamente transformarão a série em uma comédia para adolescente, segundo porque… bom, não tem o selo da HBO, o que compromete qualquer fidelidade com a série original (ou mesmo a qualidade inquestionável). Terceiro porque Darren Starr, criador e showrunner, também não é responsável pelo novo programa.
Nos minutos iniciais, percebemos que The Carrie Diaries bebe da essência de Sex and the City, seja com os planos idênticos da protagonista andando nas ruas da Big Apple ou pela estrutura narrativa. Na trama, Carrie perdeu a mãe há pouco tempo e vive com um pai bastante dedicado (?) e sua irmã rebelde. Ela está começando um novo ano letivo (conflitos high school clichês se fazem presentes) e tem poucos amigos. Logo no primeiro dia de aula, ela se encanta por Sebastian (Austin Butler), um antigo conhecido que provavelmente será o seu primeiro Mr. Big.
Assim, é como se The Carrie Diaries se inspirasse levemente no universo vivido pela Carrie de Sarah Jessica Parker, ao mesmo tempo criando uma livre versão de como teria sido a juventude dela (não necessariamente como está no livro). Até aí, não é correto julgar os desvios de comportamento ou mesmo de detalhes (como a jovem Carrie ser destra, enquanto a original é canhota), já que recriar é legítimo. Nem mesmo Sex and the City foi completamente fiel ao material original, mas, como se tornou objeto de culto, é o referencial que o público tem como “correto”. Dessa forma, um olhar diferenciado deve ser lançado, julgando como a nova série vai se sustentar em um novo universo, com personagens regredindo e voltada para um público que, possivelmente, só ouviu falar de Sex and the City ou não viveu o frisson da série de 1998 a 2004.
O carisma de AnnaSophia Robb é o grande atrativo do piloto, bem como a trilha sonora. Tirando isso, a moda se apropria do mais do mesmo do que se lembra dos anos 80 e dá a entender que não é forte o suficiente para trazê-la como algo interessante para a atualidade. O roteiro é frágil ao precisar ser autoexplicativo demais, e não falo da narração em voz over, mas de diálogos como “Oi, fulana” (três vezes seguidas) ou “Eu sou o seu namorado”, forçando a barra ao situar o espectador quando na verdade mostrar é sempre melhor do que explicar nas obras audiovisuais. Aspectos técnicos também incomodam, como uma possível falta de um continuísta na equipe ou uma montagem que tem dificuldade para encontrar o ponto de corte certo. Detalhes.
Carrie procura seu lugar no mundo, tem ambições e não se esconde atrás de ninguém para conquistar o que deseja. A simples troca de um baile com o cara perfeito por uma festa com elitistas esquisitos de NY já mostra que a jovem já está à frente do seu tempo (por mais que certamente ela sofra por amor em breve, como qualquer um). De toda forma, a série pode ajudar o público adolescente a ver o mundo de uma forma mais livre e sem tantos rótulos. Para isso, precisaremos acompanhar os próximos episódios para analisar o que a primeira temporada guarda. Essa ainda não é uma boa referência à série original, nem mesmo vai matar a saudade dos fãs, mas talvez acerte de alguma forma, principalmente se os fãs forem menos exigentes.