Em 2001, Antoine Fuqua e Denzel Washington trabalharam juntos em “Dia de Treinamento”, elogiado filme de ação que rendeu o segundo Oscar ao ator. Em “O Protetor”, a dupla retoma a parceria, mas sem um resultado semelhante ao primeiro projeto. Mais preocupado em criar um mito desnecessário em torno da figura de Washington, o longa, baseado em uma série de sucesso dos anos 1980, se perde em conflitos pontuais para justificar as aleatórias cenas de ação, prejudicando o ritmo da narrativa nos dois últimos atos.
Washington interpreta Robert McCall, um gentil homem de meia idade que tem um trabalho ordinário e uma vida pacata. Passando suas noites lendo livros em uma cafeteria, Robert conhece Teri (Chloe Grace Moretz), uma jovem prostituta. A relação entre eles surge com naturalidade. Enquanto a moça quer ser cantora e mudar de vida, Robert procura preencher os espaços em branco deixados pelo seu misterioso passado. Após Teri ser espancada por cafetões, Robert toma as dores da jovem. A partir daí, vários outros pequenos casos da vizinhança despertarão o desejo de justiça do protagonista.
A relação entre Robert e Teri dá indícios de que uma boa história se desenrolará, mas o roteiro faz questão de tirar a moça de cena para dar espaço a subtramas gratuitas onde Robert dá uma de herói do bairro, defendendo as minorias com suas habilidades quase sobre-humanas. Esperamos o filme inteiro para conhecer um pouco mais sobre o passado dele que justifique suas ações e, principalmente, suas infalíveis técnicas de matar. Mas aí reside o problema do roteiro, que não tem a mínima capacidade de se interessar pela psicologia dos personagens. Todos em tela, inclusive Robert, são meros fantoches catalisadores da porrada.
Sendo assim, o longa é construído com pequenas esquetes que vão desde um assalto no caixa do supermercado até o envolvimento da máfia russa. Sempre metódico e organizado, Robert conta no relógio o tempo que precisa para se desfazer dos inimigos. Closes exageradíssimos contemplam Washington, bem como repetem exaustivamente takes das armas sendo empunhadas, antecipando que uma cena de pancadaria está por vir. Assim, não existe surpresa durante toda a projeção. A trilha sonora de Henry Gregson-Williams soa genérica e evita o silêncio necessário em alguns momentos, enquanto a montagem de John Refoua não sabe para onde ir, muito menos estabelecer boas elipses.
Ainda que tenha um desempenho regular na direção, fazendo com que a câmera passeie entre os cenários em um bonito exercício de estilo, Fuqua não deixa de cair em todos os clichês possíveis do gênero, desde mostrar o protagonista em câmera lenta saindo de cena após uma explosão até a pancadaria embaixo de pingos d’água e com uma música acima do tom para “causar adrenalina”. São poucos os momentos onde a violência gráfica pode excitar a plateia, como na primeira grande sequência com os mafiosos russos, mais especificamente usando um abridor de garrafas.
O embate com Teddy (Marton Csokas) jamais oferece perigo aos olhos de quem assiste, até porque Robert é colocado como invencível (e nada simpático, apesar do bom coração) até pouco antes de o filme acabar. Ele não se machuca e sua inteligência está sempre à frente de todos. Um herói unidimensional carece de charme. Falando em charme, é triste ver Chloe Grace Moretz desperdiçada. A jovem atriz faz uma boa mistura de inocência e sensualidade, além de ser visualmente interessante em tela. Após sua primeira participação, o roteiro esquece não só dela, mas principalmente que foi por ela que Robert voltou ao velho hábito de se vingar. Melissa Leo também participa rapidamente para ajudar o protagonista por conveniência.
No fim das contas, “O Protetor” é um apanhado de retalhos de tudo que já foi feito antes, inclusive pelo próprio Washington. Não há um elemento sequer que diferencie este de outros grandes sucessos, como as franquias Bond e Bourne. Sem dizer ao que veio, o longa nasce atrasado e desperdiça momentos com potencial em troca da zona de conforto. E isso não promete mudar na sequência que já está confirmada para os próximos anos.
Avaliação: 3/10
Texto originalmente publicado no Cinema com Rapadura.