No Festival de Cannes 2012, “Holy Motors” venceu o prêmio Award of the Youth, além de ter concorrido à Palma de Ouro. Por onde passou, a recepção foi calorosa e, o que é mais interessante, rendeu diversas interpretações. Não que seja um filme difícil ou cabeça demais para quem assiste, mas por ter uma proposta diferenciada ao fazer uso da metalinguagem e por ir na contramão do que tem sido feito ultimamente na sétima arte.
A trama não traz uma sinopse lógica. Nem precisa, pois é no enigma da compreensão que reside a genialidade do longa. Oscar (Denis Lavant, em mais uma parceria com o diretor Leos Carax, após filmes como “Os Amantes de Pont-Neuf” – 1991 – e no segmento de “Tokyo” – 2008) é uma espécie da ator/dublê que anda pelas ruas de Paris em uma limousine dirigida por Céline (Edith Scob). De compromisso em compromisso, Oscar incorpora personagens diferentes, como se, ao sair do carro, entrasse em um filme. Ele “atua” nos mais diversos gêneros, da ficção científica ao musical.
O que diferencia “Holy Motors” de uma simples (e bonita) homenagem ao cinema, como “O Artista” ou “A Invenção de Hugo Cabret”, é a pretensão de contar uma história em que os atos e o clímax não estão claros. Nada está muito claro, sendo quase recortes de sonhos. Existe um protagonista que se caracteriza do monstro ao senhor à beira da morte e contracena com outros atores randômicos, em fragmentos de filmes. Não vemos câmera ou mesmo a equipe técnica necessárias para uma filmagem comum, afinal, como é dito no filme, as câmeras estão cada vez mais invisíveis ao público.
É nesse momento que podemos tentar compreender um pouco mais sobre a proposta de “Holy Motors”. Oscar parece que vive em um reality show, ou melhor, fiction show, passando de vida em vida, contando histórias e se recompondo ao entrar na limousine. Leos Carax dispõe de um trabalho magnífico de misè-en-scéne de cada episódio do filme, construindo mundos e fazendo-os críveis ao espectador. Nesse sentido, também vemos o diretor abordar a necessidade, cada vez maior, do poder de encenação, em que os atores precisam mostrar diferentes facetas em tela. Além disso, a fotografia e a direção de arte são de encher os olhos..
Ao longo das duas horas de projeção, o longa constrói sua abordagem de forma a nunca desinteressar o público, sempre com propriedade sobre o que fala. É uma história inicialmente simples que, pelo brilhantismo com que é contada, se torna imperdível a todo amante da sétima arte e, possivelmente, um dos melhores filmes lançados em circuito nacional em 2012.
Avaliação: 10/10