Crítica | Insubstituível (2016), de Thomas Lilti

filme insubstituivelAvaliação: 3/5

A carreira do cineasta francês Thomas Lilti começou em 1999, dirigindo curtas-metragens. Depois, Lilti se formou em medicina, mas não deixou de lado o amor pelo cinema. Seu mais novo projeto, “Insubstituível”, mistura suas duas funções.

A trama acompanha Jean-Pierre, interpretado com a segurança de sempre por François Cluzet (“Intocáveis”), um médico de confiança que trabalha na zona rural. O protagonista, no entanto, descobre que está doente e precisa se afastar da prática médica se quiser ter chances de melhorar.

A rotina de Jean-Pierre muda com a chegada de Nathalie, papel de Marianne Denicourt, mulher de seus quarenta e poucos anos que já trabalhou como enfermeira e se formou recentemente em medicina. Enquanto Nathalie ajuda no consultório, Jean-Pierre se divide entre cuidar dos moradores da região e dele mesmo.

O roteiro escrito por Lilti em parceria com Baya Kasmi traz à tona as questões de pertencimento dos personagens. Jean-Pierre é um homem solitário que colhe os méritos de sua dedicação àquele povo, aparentemente mais simples. Em troca, os moradores são fiéis ao médico, que não hesita em fazer um atendimento em qualquer hora do dia
que for chamado.

Nathalie também parece que foge de algo na cidade grande e encontra no interior a oportunidade de aprender mais sobre a profissão, mesmo que isso signifique passar por pequenas humilhações iniciais. Enquanto tenta se adaptar, Nathalie precisa conquistar a confiança dos pacientes, tão acostumados com Jean-Pierre. É por meio dessas transformações que o filme funciona.

A história tem um tom mais episódico, inserindo pequenos casos médicos para fazer com que os conflitos principais (entre Jean-Pierre e Nathalie) dialoguem. É bacana perceber as dualidades entre campo e cidade, entre as idades e experiências dos dois médicos e como eles percebem o mundo ao redor.

“Insubstituível” acerta principalmente ao deixar em aberto algumas situações, como o passado dos protagonistas, mas escorrega ao sugerir um possível interesse amoroso entre eles. Fica claro que Lilti quer desenvolver um filme
sem grandes ambições, com um tom mais leve e positivo para sua audiência. Talvez por isso, o longa-metragem tenha sido tão bem aceito pelo público em geral, tendo somado mais de 2 milhões de espectadores por onde passou.

Uma história simples que não toma grandes proporções dramáticas, “Insubstituível” vale principalmente pela dupla de atores que defende muito bem seus personagens. Tecnicamente correto, Lilti faz um filme indefeso e que discute sobre o lugar das coisas em um mundo cada dia menos atencioso com o que acontece ao redor.

Publicado originalmente pelo autor no Jornal Diário do Nordeste.

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