Avaliação: Bom
Os holofotes do mundo artístico podem apagar, já que a indústria do entretenimento é cíclica e nem sempre tem espaço para todo mundo. Partindo disso, o cineasta Jean-Paul Salomé cria o protagonista da comédia policial “Se Fazendo de Morto”. François Damiens interpreta Jean Renaut (sempre confundido com Jean Reno, famoso astro francês), um ator em decadência que, para pagar as contas, topa um desafio: participar de uma reconstituição policial, interpretando a vítima do crime.
Turrão e difícil de trabalhar, resquícios da fama de outrora, Renault encontra, no lugar de uma equipe de cineastas, um grupo de policiais não tão amigáveis, focados em desvendar o crime. Ao perceber que pode ajudar na solução do caso, Renault passa a conviver com os moradores e entra em um embate com a insegura detetive Noémie (Géraldine Nakache), por quem passa a nutrir sentimentos estranhos. A trama é ambientada em uma cidade cheia de mistérios e que mais parece parte de um jogo de Scotland Yard: em cada esquina pode ter uma pista e é sempre preciso “ver além” para descobrir o que aconteceu.
O roteiro, de autoria de Salomé junto com Cécile Telerman e Jérôme Tonnere, investe no clima noir, típico da década de 1940. Ainda que os autores consigam brincar com o mistério e inserir boas doses de humor, é difícil dobrar a antipatia do protagonista no primeiro momento. Renault chega a ser irritante, o que cria certo distanciamento dele. O lado bom é que o caso a ser solucionado pela detetive Noémie se torna mais relevante do que a antipatia do protagonista.
A forma como o script cria possibilidades para o caso prende a atenção até o final, mesmo que a charada não seja tão surpreendente. Salomé não precisa ir muito longe para refrescar o filão das comédias francesas, por isso seu pequeno diferencial, a investigação, cai tão bem. A forma como o caso afeta a todos da cidade, não apenas a quem está literalmente dentro dele, é uma boa saída. Como diretor, Salomé faz um trabalho convencional, sem muitas ambições, dosando bem os segredos e a dinâmica dos personagens.
Fazer humor é se repetir, contar aquela mesma piada várias vezes e, ainda assim, arrancar um sorriso do público. “Se Fazendo de Morto” tem noção que se levar a sério demais poderia prejudicar o resultado final, por isso é mais flexível com as situações. Cada referência ao prêmio César recebido por Renault no passado ou mesmo a forma com que ele aplica seus papéis fictícios na vida real são bem encaixadas. Depois que a trama engata, o longa se torna uma boa pedida para passar o tempo.