Crítica | Homens, Mulheres e Filhos (2014), de Jason Reitman

Homens, Mulheres e Filhos

Avaliação: Regular

Estamos conectados praticamente o tempo inteiro. A vida virtual parece mais rápida e cômoda do que a real, já que da sala de estar ou do meio da rua é possível interagir com milhões de pessoas que, por sua vez, estão interagindo com outras. Aplicativos são colocados à disposição diariamente para os usuários e, assim, forma-se uma cadeia onde não estar no espaço digital é perder uma parcela de informações, nem sempre relevantes.

O cineasta Jason Reitman (“Juno” e “Amor Sem Escalas”) adapta “Homens, Mulheres e Filhos”, obra de Chad Kultgen, com a boa intenção de fazer um registro desse período de exposição virtual. Cheio de ideias descoladas, como os caracteres e imagens que aparecem em tela, revelando o que os personagens estão falando pelo Facebook ou por SMS, Reitman problematiza muitas questões que vão além do mundo da internet, sem esquecer as relações familiares da vida real.

O problema é justamente esse. São muitos personagens e nem todos os arcos dramáticos são explorados com a mesma intensidade. Ao optar trabalhar com histórias demais, um realizador corre o risco de tornar sua trama episódica, o que nem sempre favorece o conjunto da obra. É o que acontece aqui. As vidas em tela são até interessantes, mas é notável como elas perdem o rumo ou seguem por caminhos previsíveis. A montagem tem a função de organizar esses recortes do jeito que pode, com conteúdo demais para expor e tempo de menos para desenvolvê-lo.

Reitman extrai uma atuação sóbria de Adam Sandler, mas se destaca principalmente com o trabalho junto ao elenco adolescente. São os “filhos” do título os responsáveis pelos melhores momentos do longa. O carisma de Ansel Elgort confronta a depressão de seu personagem, e sua relação com a personagem de Kaitlyn Dever é a melhor coisa do filme, revelando como suportes emocionais podem fazer diferença na vida das pessoas. No elenco adulto, Jennifer Garner parece totalmente equivocada, não apenas por interpretar uma mãe literalmente psicopata, mas por ser unidimensional ao ponto de comprometer até mesmo o momento de sua rendição, ausente de qualquer sensibilidade ou dramaticidade.

O roteiro também faz questão de criar metáforas nem sempre muito suaves, como a principal delas, narrada por Emma Thompson, que envolve a sonda espacial Voyager, lançada em 1997, ou mesmo as citações a Carl Sagan. De toda forma, a lição que fica é que somos apenas parte de um sistema tão maior que pode nos tornar insignificantes, mas mesmo assim nossas ações de hoje podem reverberar mais cedo ou mais tarde, dentro ou fora do mundo virtual. Sem conseguir unir todas as pontas, Reitman faz uma obra morna, que provavelmente esfriará nos próximos anos, pois está datada. Vale a pena dar uma olhada, mas sem grandes expectativas.

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