Review | Sem Pena (2014), de Eugênio Puppo

Sem Pena_Créditos Guilherme Freitas

O documentário de Eugênio Puppo, de São Paulo, reflete sobre as irregularidades do sistema judiciário. Apoiado pelo Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), “Sem Pena” maquia a realização institucional para falar, de forma acessível, sobre os problemas, (in)justiças e ironias da criminalização no Brasil. Com bastante didatismo e sem nenhuma inventividade do formato, “Sem Pena” reconhece que sua força maior reside nos depoimentos colhidos.

O roteiro funciona como serviço e questiona a empregabilidade da justiça. É uma experiência bem mais humana, sempre preocupada em informar mais do que construir, tanto que os deboches são pontuais e nem sempre tão inteligentes. A opção do documentário de isolar os personagens e mostrar apenas suas vozes, acompanhadas de imagens de coberturas nos presídios, valoriza a atenção que você precisa dar para o conteúdo narrado, mas afasta o envolvimento com os entrevistados. Puppo defende que foi justamente essa a intenção.

Com a ausência da imagem, o público fica proibido de ter pré-julgamentos. É um recurso mais fácil, que exclui a identificação dos personagens e investe no anonimato, como se aquilo pudesse acontecer com qualquer um. E pode. Mesmo assim, o cineasta se vicia demais nessa estrutura e acaba se perdendo. Poucas imagens geram o impacto desejado ou mesmo entram em harmonia com os depoimentos. Falta harmonia também na trilha sonora que utiliza os acordes de John Cage para ocupar os espaços, já que o exagero toma proporções homéricas que mais causam dor de cabeça.

No terceiro ato, o diretor decide recuperar a atenção do espectador com a exibição de uma audiência real de uma mulher acusada por tráfico de drogas. Este é o momento mais importante e que mais funciona justamente por deixar o público constrangido com a relação estabelecida em cena. O constrangimento é importante, pois reforça como a justiça “funciona” no País. Pena que quando esse fragmento entra em pauta, já é tarde demais para tirar “Sem Pena” do lugar comum.

O direito do cidadão tem se perdido em leis que pouco se justificam ou não se aplicam da forma adequada, onde mudanças parecem se arrastar por anos. Às vezes, tais mudanças nunca acontecem. Considerado o terceiro maior contingente carcerário do mundo, o Brasil precisa refletir e questionar o futuro, e felizmente a durabilidade das artes visuais e do audiovisual pode provocar mudanças, mesmo que tardias.

O filme fez parte da programação do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em setembro de 2014. Crítica adaptada a partir de texto publicado pelo autor no Jornal Diário do Nordeste.

Avaliação: 6/10

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