Em agosto de 2011, dei a minha primeira aula do curso de Introdução à Crítica Cinematográfica no Extensão Cinema. No mesmo ano, tive a primeira experiência em nível universitário ministrando uma disciplina de Artes Visuais e Cinema para o curso de Pedagogia. Mas foi bem antes, em 2003, que eu comecei a dar aulas de Inglês em um curso pequeno do meu antigo bairro.
Desde que me entendo por gente, eu trocava os carrinhos e os bonecos por livros, pois achava o máximo brincar de professor. Achava divertido dar nota baixa para fazer o aluno reprovar a disciplina, talvez por exibicionismo, já que eu era um dos primeiros da classe. Amava brincar de corrigir prova com caneta vermelha. Marcar um X onde está errado, somar os escores e dar o visto final. Coisas bobas de criança.
Quando você cresce, se forma e passa a compreender os desafios da vida acadêmica, vê que as coisas são um pouco diferentes. Você passa a querer dar notas altas, no lugar das frustrantes notas baixas. Talvez até tire uma falta ou outra do aluno, que não conseguiu acordar tão cedo para a sua aula. Você percebe que aquele momento de compartilhar conhecimento é uma via de mão dupla, que os deslizes acontecem e que nunca sabemos de tudo. Mas é a parcela que sabemos que vai fazer a diferença na relação professor/aluno.
Eu poderia escrever muitas e muitas linhas sobre as aventuras que eu já vivi em sala de aula, as emoções, os constrangimentos, enfim, mas não é o foco do texto. Ao trocar as aulas de Inglês por aulas de Cinema, alcancei uma realização pessoal inesperada. Ao mesmo tempo que é difícil “ensinar arte”, baseada em uma “gramática” que está em constante experimentação (felizmente) e que muitos consideram aptidão, não há satisfação maior que estar na frente de pessoas interessadas no que você tem a dizer.
O trabalho do professor, lembrado todos os anos no dia 15 de outubro, não está apenas no nível intelectual, mas em tudo que ele pode contribuir para a formação pessoal ou profissional dos alunos que, por sua vez, colaboram para o crescimento do mentor. Quando ensinamos Cinema, para além de qualquer especificidade do Griffith ou Eisenstein, ou de normas do Syd Field e Doc Comparato, tentamos compreender e desmembrar tudo que faz com que o universo cinematográfico seja tão delicioso assim. Alguns dizem que isso é ensinar com paixão.
No mais, esse texto não é para falar sobre mim. É para agradecer a todos os mestres que eu já tive e, principalmente, aos alunos que já passaram pela minha sala de aula. E digo que vou continuar, no matter what. Que venham mais outros 10 anos!
Primeira turma do curso de Introdução à Crítica Cinematográfica do Extensão Cinema.
Fortaleza, agosto de 2011.